Janeiro – Prisão invisível. Resistindo.

         
            O ano começou tão cheio de planos e objetivos, mas, sinceramente, estava tão cansada fisicamente, psicologicamente e emocionalmente. Cansada do meu trabalho, cansada desses mil rostos desconhecidos que eu vejo por semana, cansada de forçar sorrisos que eu não quero dar, cansada de andar sobre a linha que me designaram a andar, cansada de me submeter, cansada de tentar ser algo e não ser nada, cansada de me preocupar, muito cansada de me importar.
            Eu quero voar, eu preciso voar, então por que continuam cortando minhas asas? Até quando eu tenho que viver assim? Sem saber estar sobre esse lindo céu azul? Me deixem voar, por favor? Como é sufocante e agonizante viver como as outras pessoas querem que a gente seja! Por mais boa que eu queira ser para pessoas que amo, eu não posso mais me limitar, eu não quero mais me limitar, então, por favor, me deixe, libertem-me dessas correntes invisíveis que vocês colocaram em mim para me controlar, para eu não ir longe, para eu não seguir minha vida e viver somente para vocês.
            Sentimentos que transbordam, ansiedade e depressão que ficam oscilando. Quero avançar logo, não quero nada, quero apenas abandonar tudo. Quão doloroso é olhar para pessoas que amamos e, ao invés de amor, o que você sente é que quer correr delas. Você não confia mais nelas, você quer fugir, mais dói, porque ainda assim, mesmo que todos sentimentos lamentáveis nos invadam, sabemos que amamos essas pessoas.
            Sabe como é trancar todos esses sentimentos dentro de si? Não colocar em palavras, tentar bloquear pensamentos, engolir afronta por afronta, dor por dor, erguer a cabeça, respirar fundo e seguir em frente? Eu fiz isso, porque ao contrário, eu iria desabar. Eu fiz porque eu precisava viver nem que fosse um pouquinho. Eu precisava buscar forças do fundo do meu coração e ir em direção ao meu objetivo, e começar a dar vida aos meus projetos.  Sim,  mesmo com dor, eu engoli isso e segui em frente. Tive algumas recaídas, mas tudo bem, sou humana, afinal de contas.

            Mesmo com tudo isso, eu tive momentos tão quentes como o sol. Os meus finais de semana foram totalmente dedicados a trabalhar sobre um projeto que estou me orgulhando muito, e são nesses momentos em que eu posso estar na companhia de pessoas que eu estimo muito, que só de vê-las eu já fico feliz. Ser abraçada, rir de verdade, me divertir, tudo isso acontece quando estou com elas. E aí eu sinto que eu posso seguir em frente. Pude estar na presença de alguém que eu já estimava, mas quando ela olhou através de mim, eu fui cativada por completo. Se ela soubesse o quanto aquela pergunta foi importante para mim...

            Foram esses pequenos momentos que me fizeram sorrir, que me fizeram esquecer coisas que eu queria apenas que não tivessem acontecido. Dias como esses aí foram como remédio para mim, foram minha fuga, meu esconderijo, que eu pude, enfim, respirar, que fizeram meu janeiro valer à pena.  Então,  esse janeiro não foi como os outros. Foi difícil. Parece que quanto mais você quer viver, mas coisas difíceis acontecem. Mesmo assim,  me recuso a cair em minha própria miséria. Mesmo que seja me arrastando, eu não vou parar, vou continuar indo em frente, mesmo machucada, mesmo sangrando, eu não pretendo parar. Eu vou voar e será com minhas próprias forças. Só eu posso me libertar, foi o que me dei conta. Embora já saiba que não é tão fácil nos livrar daquilo que estamos escravizados psicologicamente a ser ou fazer.

“O impossível e uma palavra muito grande que gente pequena usa para tentar nos oprimir” (Pregador Lu)

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